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Luto gestacional: quando o silêncio pede respeito

Luto gestacional: quando o silêncio pede respeito

O luto gestacional é uma das experiências mais intensas e solitárias que uma mulher ou um casal pode atravessar. Não é apenas a perda de uma gestação, mas a interrupção de um projeto de vida, de um vínculo que já existia no corpo e no coração. É um tema que toca a alma. Até mesmo enquanto escrevo estas palavras, me vêm à mente histórias de mulheres que já acompanhei e a dor profunda que viveram. Lembro também de como, ao longo do processo terapêutico, muitas encontraram um fio de acolhimento que não tirou a dor, mas ajudou a dar forma a ela e a seguir respirando, pouco a pouco.

A psicologia perinatal mostra o quanto essa experiência atravessa não apenas a mente, mas também o corpo e as relações. O cérebro, diante de uma perda, ativa os mesmos circuitos da dor física. Isso explica por que tantas mulheres descrevem um peso real no peito, no estômago ou uma sensação de vazio que não é apenas emocional.

Cada pessoa lida de um jeito. Algumas precisam falar e repetir a história, outras encontram no silêncio uma forma de se preservar. Há quem se apoie em pequenos rituais simbólicos, como escrever uma carta, guardar uma lembrança ou plantar uma árvore. Nenhuma forma é mais certa que a outra: o que importa é respeitar o ritmo de cada um.

A culpa costuma rondar esse processo, mas a ciência nos mostra que, na maioria dos casos, a perda não está ligada a nada que a mãe tenha feito ou deixado de fazer. Nomear isso é fundamental para aliviar o peso da autocobrança e abrir espaço para o cuidado consigo.

Em muitos atendimentos, já vi mulheres chegarem fragilizadas pela perda e, ao longo do acompanhamento, aos poucos retomarem a vida com mais leveza. Não significa esquecer o bebê ou apagar a história, mas encontrar um jeito de conviver com essa ausência sem que ela defina quem são. Uma paciente me disse, depois de meses de acompanhamento, que finalmente conseguia sorrir sem sentir culpa e esse foi um dos sinais mais bonitos de que o processo estava ajudando a reorganizar sua vida.

É nesse sentido que o acompanhamento psicológico é tão valioso. Estudos mostram que o suporte especializado reduz os riscos de depressão e ansiedade, fortalece recursos internos e ajuda a elaborar o luto de maneira saudável.

Nos últimos anos, alguns passos importantes também foram dados socialmente. Em 2025, uma lei foi sancionada no Brasil garantindo que mulheres que passam por perdas gestacionais ou neonatais não sejam internadas na mesma ala de quem está com o bebê nos braços. Uma medida simples, mas essencial para que essa mãe tenha sua dor respeitada. Essa lei também prevê o direito a acompanhante, tempo para a despedida e apoio emocional adequado. São avanços que humanizam um processo tão doloroso e ainda tão silenciado.

Se você está atravessando esse momento, saiba que sua dor é legítima. Não existe pressa para “ficar bem” nem obrigação de fingir que nada aconteceu. Buscar apoio, dar espaço para suas emoções e cuidar de si mesma é um ato profundo de coragem.

Porque cada vínculo, mesmo interrompido cedo demais, merece ser honrado. E cada mulher merece viver esse luto com dignidade, cuidado e esperança de que é possível, um dia, voltar a sorrir sem culpa.

Se você está lendo este texto e passou por alguma perda, sinta meu abraço. Se precisar, estou aqui.

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Harmonizar o ser mulher com o ser mãe é encontrar o equilíbrio perfeito onde cada aspecto da vida se entrelaça com carinho e realização, criando um espaço de bem-estar e plenitude.